Como escolher um fone de ouvido ideal - Manual do Comprador de Headphones
- Felipe Almeida
- Aug 10, 2022
- 9 min read
Updated: Nov 30, 2023
5 passos para fazer uma compra de fone de ouvido que você não vai se arrepender!

Comprar coisas online nunca é fácil. Afinal, só temos como ver uma imagem chapada na tela do nosso celular ou computador, o que não dá dimensão de como são os produtos. Mas e se eu dissesse para você que é possível evitar frustrações na hora de escolher o seu próximo equipamento? Eu sou Delbs, um audiófilo “pé no saco”, e hoje vou falar sobre fones de ouvido!
Assim como qualquer outro acessório ou periférico, os fones de ouvido têm suas características técnicas. Nesse artigo, eu vou explorar como você pode saber diversas informações sobre o seu próximo headphone sem nem sequer sair do conforto da sua cadeira. E ai, vamos?
Muito Longo, Não Li:
Formato
A primeira coisa que você tem que se perguntar é: “Qual tipo de fone de ouvido eu quero”? Afinal, hoje em dia, temos diversos formatos, tamanhos e pesos de fones de ouvido - e cada um deles tem suas peculiaridades.
Earbuds

Os mais comuns no nosso dia a dia são os earbuds - são fones que se encaixam em nossa orelha, mas sem vedar o canal auditivo. É extremamente comum ter um desses junto com o seu smartphone, por exemplo. O benefício dos earbuds é o custo de produção. De longe, esses daqui vão ser os mais baratos da lista - mas obviamente o custo vem de outra maneira. São raros os earbuds bons no mercado, porque contam com alto-falantes beeem fraquinhos e sem detalhamento, sem contar que a falta de vedação com o ouvido faz com que não haja nenhum isolamento sonoro do exterior. Por outro lado, na maioria das vezes serão os fones mais leves dessa lista.
Fones In-Ear

Porém, se você ainda procura um fone de ouvido leve e discreto como o earbud, temos também os fones intra auriculares - ou In-ear, para os íntimos. Esses possuem uma ponteira de borracha ou espuma, garantindo que o fone consiga criar uma melhor vedação. Além disso, o mercado de IEM (In Ear Monitors) vem crescendo exponencialmente nos últimos anos, garantindo com que tenham opções de todos os sabores para todos os preços. Os modelos conseguem entregar performances muito boas, já que alguns contam com uma pluralidade de falantes para cada lado do par de fones. Mas eu devo avisar, alguns Otorrinolaringologistas desaprovam o uso desse tipo de fones, uma vez que adentram mais o canal auditivo, causando um potencial acúmulo de cera de ouvido.
Se você realmente quer a experiência com um equilíbrio melhor dentre detalhamento e “saúde auditiva” - e com potencial de isolamento sonoro -, eu recomendo olhar para headphones mesmo. Dentre estes, existem dois formatos: On Ear e Over Ear.
Headphones On Ear

On Ear é um formato bizarro: Por mais que seja um headphone, garantindo com que hajam alto-falantes maiores e mais detalhados, sem entrar nos canais auditivos, sua ergonomia é uma questão de gosto. Os fones ficam repousados em cima da sua orelha, ao invés de ao redor (Imagem 4), fazendo com que pressione levemente a orelha. A vantagem é que estes costumam custar mais barato do que Over Ears, mas pessoas que usam óculos - como eu - podem encontrar desconforto rapidamente com esse tipo de fone. A oferta desta categoria de fones é mais restrita, também.

Headphones Over Ear

Por último, temos os headphones mais famosos mundialmente: os Over Ear. Como comentei no parágrafo anterior, eles envolvem a orelha do ouvinte, garantindo um conforto melhor que os On Ear. Além disso, a oferta e variedade é mais extensa do que a de IEM, já que estes são mais novidade no mercado. Porém, tudo vem com seus pontos fracos: dependendo do modelo de fone de ouvido, eles podem aquecer a orelha do ouvinte levemente, e compõem os maiores produtos das categorias de formato.
Isolamento Acústico
Por mais que Headphones forneçam um isolamento acústico certeiramente melhor que Earbuds, existem variações dentre essas categorias. IEMs dependem da estrutura que têm para configurarem como intra auriculares, então não apresentam tantas variações. Mas no caso dos headphones, existem duas variações.
Primeiramente, precisamos falar do isolamento passivo, que é quando um fone de ouvido consegue abafar sons externos pelo próprio design dele, sem precisar de quaisquer auxílios eletrônicos - mais disso mais embaixo no post.
Para garantir a vedação, o headphone precisa estar com o compartimento do alto-falante fechado (Imagem 6). Esses são os fones que chamamos de Closed-Back (Traseira fechada). Porém, além do isolamento acústico, fones closed-back tendem a ter mais presença nos graves - existe toda uma ciência por trás disso, mas não me cabe explicar aqui.

Em contrapartida, existem pessoas que preferem um som mais natural, e estão dispostas a sacrificar sua privacidade em prol de uma experiência sonora mais expansiva. Para esses, existem fones de ouvido que contam com uma grade atrás do alto-falante (Imagem 7), chamados de Open-Back (Traseira aberta). Em breve, na sessão de qualidade do som, eu explico melhor como esses fones podem se beneficiar dessa estrutura de “isolamento” (ou falta de)

Existem pessoas que adoram apontar o meio do caminho, chamado Semi-open Back (Traseira Semi-Aberta), mas a oferta é muito pequena, e o “meio do caminho” é extremamente inconsistente - existem fones Semi-open que são demasiado abertos, outros que são demasiado fechados.
Agora, existem também métodos de isolamento ativo. Esses são mais comuns em fones de ouvido sem fio - headphones e IEMs -, que fazem uso do microfone presente em seu arsenal para captar as frequências exteriores e, a partir de um algoritmo, produzir uma frequência sonora que cancela os ruídos vindos do mundo ao redor do ouvinte. É uma tecnologia muito inteligente, mas pode ser um pouco irritante para alguns ouvintes.
Tonalidade
Tudo isso que foi dito acima só contempla a parte de formato, mas e quanto a sonoridade da música? Tonalidade é a análise de como as diferentes frequências são reproduzidas por um fone de ouvido. Cada um possui sua própria tonalidade, e reproduzem médios, graves e agudos em volumes diferentes.
Ao ler várias análises de fone, você pode perceber que os reviewers descrevem a tonalidade de maneiras diferentes. Eu digo que é seguro levar a palavra deles à sério, já que estão descrevendo a maneira com que as frequências são entregues ao ouvinte. Por exemplo, se alguém descreve que um fone de ouvido é mais “escuro”, ou que tem mais “punch”, significa que as frequências graves e médio-graves se destacam naquele produto, apresentando maior presença. Cabe ao ouvinte saber o que mais gosta de ouvir - se são os vocais que ficam mais presentes nas frequências médias, se são os sibilantes de pratos ou triângulos nos agudos, ou se são as batidas mais presentes nas frequências baixas.
Porém, existem outras maneiras de se analisar a tonalidade de um fone. Apresento para vocês: um gráfico de resposta de frequência.

Para melhor comodidade, vou pegar gráficos do site crinacle.com, que conta com um acervo bem extenso de gráficos para se comparar, assim como uma ferramenta específica para isso.
Explicando rapidinho para vocês, as linhas representam a resposta de cada um dos falantes do fone de ouvido (esquerdo e direito), sendo o eixo y (altura) o volume de reprodução do som, e o eixo x (comprimento) as frequências em Hertz. Quanto mais para a direita (próximo dos 20 mil hertz), mais agudo é o som sendo medido. Em contraste, quanto mais para a esquerda (próximo dos 20hz), mais grave.
É possível ver uma outra linha, chamada “Target” (ou “Alvo). A curva de Alvo é delimitada por quem fez a medida para definir o que é o som puramente neutro - que não reproduz nenhuma frequência mais alto do que as outras. O target é necessário porque uma resposta de fone 100% plana não significa que o fone é neutro, porque o nosso ouvido funciona de uma maneira beeem peculiar.
Ao comparar com o Alvo na imagem 8, podemos perceber que esse fone (o AKG K712) é um fone com uma resposta um pouco “quente’ - pode-se perceber que a linha de resposta dele está acima do Alvo nas frequências dos 40hz até 1 kHz (Mil Hertz). A partir dos médios, ele tem um breve pico em 2 kHz, e nos agudos têm um pouco mais de volume, mas nada que seja muito sibilante.
Você pode comparar também dois fones de ouvido, uma vez que os gráficos desse site são medidos com os mesmos aparelhos, possibilitando a comparação. Assim, você pode encontrar a curva de resposta de um fone que você já gosta, e comparar com outro, ou até mesmo encontrar um par que dê mais ênfase em alguma frequência que você goste mais.
Qualidade de Som
“Mas pera Delbs, tudo que você falou no tópico acima não é qualidade de som?” Não, mas é muito comum as pessoas confundirem ambos. A análise de tonalidade é algo mais objetivista, que pode ser medido, mas a qualidade de som só pode ser experimentada pelo próprio ouvido humano. Essa é a parte que você vai precisar ver diversas análises, já que os reviewers tentam seu melhor para explicar a qualidade do som.
A qualidade do som pode ser expressa de diversas maneiras. O detalhamento de sons, a “textura” que eles tem, a nitidez e outros aspectos podem delimitar se o som é bom ou ruim. Por exemplo, pessoas tendem a dizer que os graves de algum fone são “muddy” (lamacentos). Isso indica que a maneira que os graves são reproduzidos em volume mais alto - por conta da tonalidade do fone -, mas ao mesmo tempo falta detalhe, fazendo com que a qualidade do som caia.
Outro aspecto a se visar quando analisando a qualidade sonora de um fone é o detalhamento espacial. Um fone de ouvido com boa qualidade de som é capaz de criar separação espacial, como se fosse possível “visualizar de onde vêm os sons”. A distância dos sons - o quanto eles se estendem, que costumamos chamar de palco sonoro - pode ser apresentada de maneiras diferentes. Alguns preferem algo mais íntimo, que apresenta os instrumentos mais perto do ouvinte. Outros preferem uma expansividade imensa, dando a sensação de que se está em um show ao vivo.
(Bônus) Impedância e Sensibilidade
Bom, se você chegou aqui, claramente quer mesmo saber de tudo que é necessário para se comprar o fone ideal! Porém, eu sinceramente só recomendo essa parte para quem realmente quer ser audiófilo, porque aqui começa um papo BEM de nerd.
Várias pessoas do hobby já estão acostumadas com a ideia de impedância - a resistência e capacidade elétrica encontrada em um circuito. Já que o sinal do fone de ouvido é um sinal analógico, tanto o fone de ouvido como a fonte de som tem sua impedância. Quanto maior a impedância, mais potência é necessário para reproduzir um som.
Geralmente, a regrinha básica é: em caso de um fone de ouvido com impedância maior que aproximadamente 64 Ohms, você vai precisar de um amplificador de fone de ouvido - que é responsável por entregar mais volume em fones de ouvido mais chatinhos. No entanto, tem um pooouco mais nessa história.
Primeiramente, existe outra medida que mostra o quão difícil é reproduzir um som em um fone de ouvido: a sensibilidade dele (Imagem 9). Geralmente medida em nível de pressão de ar (SPL) por Volts (V) ou MiliWatts (mW), a sensibilidade apresenta quanta potência a fonte tem que ter para reproduzir um certo volume. Logo, quanto menor a sensibilidade, também é mais necessária a amplificação.

Mas eu estou aqui para facilitar as suas coisas, então aqui vem uma dica de ouro: usando a ferramenta no site http://www.digizoid.com/headphones-power, é possivel colocar a impedância e sensibilidade de um fone, e ele calcula quanto de potência é necessário para reproduzir o som do seu fone de ouvido (Imagem 10 e 11). Pessoalmente, eu recomendo que você busque que a fonte de som do seu sistema chegue pelo menos na potência do “Very Loud” (115 dB SPL)


Agora, lembra que eu disse que ambos fone de ouvido como fonte de som têm impedância? É porque existe também uma resistência elétrica da saída de som de alguma fonte - seja do seu celular, amplificador dedicado, dentre outros. Quanto maior essa impedância, maior a chance do seu som distorcer, principalmente quando seu fone de ouvido tem uma impedância baixa.
A dica é sempre comprar uma fonte de som que tenha impedância muito baixa, ou ao menos que ela seja 8 vezes menor que a impedância do fone. Ou seja, se eu tenho um fone de ouvido de 64 ohms, o ideal seria que eu tivesse uma fonte de som que tenha impedância menor que 8 ohms, para evitar que o som seja distorcido.
Conclusão
Realmente são muitas coisas para se considerar, mas para melhor comodidade, vem aqui aquele resuminho de bolso para você não se esquecer!
Formato: In Ear, Over Ear e On Ear
Isolamento: Cancelamento de ruido ativo, cancelamento de ruido passivo (Open ou Closed Back)
Tonalidade: Qual tom (médio, grave ou agudo) que tem mais ênfase no fone
Qualidade: Palco sonoro, detalhamento espacial, textura, detalhamento e nitidez
Impedância e Sensibilidade: Geralmente, qualquer coisa acima de 64 Ohms de impedância vai precisar de um amplificador dedicado
Começando já com o pé direito, finalizo aqui o Manual de Compra de Fones de Ouvido - provavelmente o meu manual de compra mais extenso que vou fazer. Espero que você possa aproveitar bastante do conhecimento, e que te ajude a fazer a escolha certa.
É isso, até a próxima pessoal! o/
Fontes:
Ferramenta de comparação: https://crinacle.com/graphs/headphones/graphtool/
Ferramenta de cálculo de potência: http://www.digizoid.com/headphones-power
Vídeo explicando distorção e impedância: https://www.youtube.com/watch?v=SpTsWVLI-ig
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